segunda-feira, 1 de julho de 2013

Sem planos para o amanha

     
"Eu não poderia gritar, chorar ou bater os pés e ordenar que ficasse. Amor não se pede, lembra? Eu só fiquei ali calado esperando, com os dedos cruzados torcendo pra que ela voltasse." 
Gabriel Hudson






    Prometo que amanha pela tarde quando eu me levantar bem indisposta para viver retorno as ligações que merecem as minhas explicações. Fiquei fora do mundo uma semana inteira, e parece que a cidade toda resolveu me procurar, tem umas trezentas mensagens na minha secretaria eletrônica, coitada,  preciso dar-lhe férias. Minha casa esta um lixo, pedi para a pobre empregada, que sempre me colocava pra dentro em todas as noites difíceis,  para que apenas alimentasse meu cachorro e me deixasse viver nessa podridão de espírito. Fui deixando tudo pra depois, e para amanha, e não fiz absolutamente nada, acabei não telefonando pro meu avô pra saber como anda a saúde dele,  nem passei na casa da mamãe pra lhe pedir desculpas pelo sumiço preocupante, por falar nisso acho que ela passou umas vezes aqui em casa e nem fui digna de levantar da cama para lhe atender, que filha horrenda que sou.
      Esqueci que a mensalidade da moto vencia essa semana. Deixei pra manha o que eu devia ter feito ante ontem.  É que nos últimos meses as coisas vêm acontecendo de uma forma que eu não consegui segurar as pontas por mais tempo, não sozinha. Você saiu por aquela porta e deixou as suas coisas aqui, só para que eu implorasse a sua volta, mas acho que você realmente não me conhece bem, não pedi nem que meus amigos voltassem apenas virar as costas, e seguir com suas vidas medíocres, e com você não foi diferente, mas não se apresse eu volto a si amanha mesmo. Ouvi sua mensagem no alto falante daquele maldito telefone petulante. É que só sobrou sua voz no telefone mesmo, suas partes já foram arrancadas do meu apartamento, e o seu capacete já foi vendido, fiz isso antes mesmo de desfalecer uma semana inteira.
      Estou pensando em deixar a cidade, aqui não é tudo  que Renato Russo sempre pensou, e que me iludiu em seus versos, aqui onde não encontrei amor, só dinheiro e solidão. Essa semana de “morte para o mundo” me fez tomar a decisão que eu tinha em mente desde o dia em que pisei o pé esquerdo aqui.
      Fico imaginando a cara da minha mãe quando eu contar os motivos de ir embora, primeiro ela vai perguntar-me se foi esse o tipo de criação que me deu, se alguma vez na vida eu tenha á visto fazer algo do tipo por algum ser que possua pênis, e não, minha mãe nunca se apaixonou. Engraçado, por que não segui o mesmo caminho?! Talvez sofreria menos. Mas me perdoe mamãe, semana que vem estou de mudança, para uma cidade com praia, pois ate onde sei, ele odeia o som que o mar faz, que tipo de loucos fomos? Porque ainda estivemos tanto tempo dividindo o mesmo cobertor? Dividindo o nosso calor, nossas meias verdades? Você foi o buraco mais fundo onde  me afundei, e sim, minha mãe  deve ter me avisado umas setenta e duas vezes  e tentou também tomar das minhas mãos a pá que você me dera, e eu de imatura não aceitei ser ajudada, desculpa mamãe.
       A única  coisa tua que sobrou jogada por aqui em algum canto foi o acústico do Alice in Chains, não queria te contar, mas tem sido a única coisa que consigo escutar desde então. Mas amanha pela manha bem cedo vou te enviar pelo correio. Foi horrível ter te conhecido, obrigada por tudo e me desculpe pelo resto. O mais difícil foi ter a plena certeza de que tudo não se resolveria amanha de manha.

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