sexta-feira, 19 de abril de 2013

Memorias reais do que nunca existiu.


       Lembro-me de ter esperado você em uma esquina por pelo menos 15 anos, esperando você chegar e dizer que me amava. Tudo bem, fui um pouco dramática, sei que não foram esses intermináveis quinze anos, mas foi um longo tempo, quando há dor o tempo é prolongado automaticamente.
        E foi assim que eu te esperei por muito tempo, esperei até meus pés sangrarem. Te escrevi mil juras de amor, fiz mil cartas e coloquei no seu correio, limpei todas as suas lagrimas de madrugada, atendi a todos os seu telefonemas  de perdão, mesmo depois de ter me levado pra sua casa e ter feito amor comigo, quer dizer, eu fiz amor com você, quando na verdade pra você não passou de uma noite prazerosa. Acho que o problema foi ter que guardar todas as cartas no meu guarda roupas, ter atendido os telefonemas e ter apenas escutado o que você teria pra me dizer.
       Naquela noite, no bar do meia dia no centro de Brasília que nos descobrimos, ou melhor, eu me descobri em você, acho que vou passar o texto todo me corrigindo quando falo de nos dois, ou melhor, de mim e você,foi em meio aquela noite fria de um bar com cervejas bem acesas que eu te vi. Vi você declamar todas aquelas tristezas nas cordas do violão, e sem motivo eu quis por a sua tristeza toda sobre mim. Mas não deu certo pra você, muito menos pra mim, azar o meu quando por infelicidade da solidão eu atendi seus telefonemas de carência, ouvindo você dizer que precisava de uma musa inspiradora quando na verdade... eu nunca nem soube qual era a verdade.
      E não, eu não mudei de casa, não mudei de esquina, não mudei os lugares que eu adoro frequentar, resolvi ser forte como sempre, na verdade eu já fui mais forte do que eu sou hoje, e não, não se usa mais trema na palavra “freqüentar”. Os tempos são outros, eu quero que você continue a escrever nas suas regras passadas, na tristeza das suas notas, só não me peça pra colher as flores do seu jardim, elas murcharam, você mesmo não quis que eu cuidasse. Não eu não vou voltar no natal com presentes ou até mesmo cordas novas pro seu violão, mesmo que você componha uma opera inteira, eu esperei um longo tempo naquela esquina, vi a minha vida passar, vi meus dias ficarem tediosos e o vento soprar mais frio que nunca. Agora você vem com essas suas palavras fáceis de que nunca foi amado de verdade, que eu fui a flor mais bonita do teu jardim, que as suas melhores canções foram por minha culpa, não, deixe essa sujeirada pra mais tarde quando eu tiver tomado uns 4 copos de vinho. Essa semana meu pai vem na cidade me visitar e eu quero que ele veja a filha “equilibrada” que ele tem, não quero você deitando na minha calçada, nem fuxicando o meu lixo, muito menos lendo minhas colunas nas revistas, quero ser normal ao menos uma vez na vida, e fingir que o mundo é feliz sem você, ou melhor, sem nos dois.

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